No so apenas teorias da conspirao que unem os bolsonaristas Olavo de Carvalho, Allan dos Santos, Bernardo Kster e Sara Winter, o defensor de armas Bene Barbosa, os jornalistas Lus Ernesto Lacombe e Leda Nagle e portais como Tera Livre, Senso Incomum e Folha Poltica. Todos tm negcios com uma editora de Campinas, no interior de So Paulo, chamada Cedet. O Cedet uma empresa que tem sete selos editoriais prprios e parcerias com outras 20 editoras, alm de gerenciar 72 livrarias virtuais. A maioria delas opera sob os nomes de personalidades ou de sites conhecidos da extrema direita, a includas as figuras que abrem este texto, alm de Ana Campagnolo, Antonia Fontenelle, Italo Marsili, Alexandre Costa, Rodrigo Gurgel, Rodrigo Constantino e o jornal online Brasil Sem Medo, de Olavo de Carvalho.
S Olavo recebeu mais de R$ 106 mil do Cedet, em 2017, como ele mesmo informou na declarao de imposto de renda disponvel nos documentos de um processo movido contra ele pelo msico Caetano Veloso. Segundo o Cedet, trata-se do pagamento de direitos autorais do guru bolsonarista. Olavo, Ana Campagnolo e Italo Marsili tiveram livros lanados pelo Cedet. As livrarias virtuais tambm vendem ttulos selecionados por influenciadores da extrema direita, de publicaes com inspirao no extremismo catlico da CitizenGO a escritos de economistas ultraliberais, como Ludwig von Mises, que teve obras editadas por selos do prprio Cedet. At agosto de 2021, 81 domnios de sites eram vinculados ao CNPJ do Cedet, segundo consulta no Registro.br, do Ncleo de Informao e Coordenao do Ponto BR, o NIC.br. Pouco conhecida, a histria da empresa um retrato da ascenso do boom editorial da extrema direita no Brasil, um fenmeno que vem se desenrolando ao menos h uma dcada. Entre 2009 e 2019, o Cedet se mudou de uma casa simples para um galpo num complexo industrial em Campinas. O capital social sextuplicou, indo de R$ 20 mil a R$ 120 mil, ainda modesto para uma empresa de pequeno porte, faixa em que o faturamento atualmente pode chegar a R$ 4,8 milhes anuais.
Segundo uma fonte que j fez parte do Cedet e que conversou com o Intercept sob a condio de anonimato , as editoras e o olavismo tm uma relao de benefcio mtuo. A empresa supriu a demanda do mercado editorial aberta por vozes como a de Olavo. J o guru bolsonarista se valeu da capacidade operacional do Cedet para se consolidar como principal voz da extrema direita. No foi do nada que surgiu [o boom do mercado editorial conservador], nem foi sozinho. Foi uma escalada, definiu a fonte. Especializado em telecomunicaes, com mestrado e doutorado em engenharia eltrica, Csar Kyn Dvila, um dos scios do Cedet, incluiu no Lattes (a plataforma de currculos acadmicos no Brasil) um Seminrio de Filosofia como ps-doutorado. O curso, segundo ele, foi realizado em 2009, quando ocorreu a primeira edio do curso de filosofia de Olavo e quando o Cedet passou a publicar livros, aps 27 anos atuando num ramo diferente. A outra scia majoritria a engenheira Adelice Leite de Godoy Dvila. Conservadora, ela j afirmou na Cmara de Campinas ser integrante do Observatrio Interamericano de Biopoltica, uma organizao que combate a ideologia de gnero e faz parte de um movimento catlico ultraconservador que se define como pr-vida ou seja, que combate o direito ao aborto. Como o Intercept revelou, uma organizao que usava o domnio biopolitica.com.br trouxe ao Brasil Ignacio Arsuaga, idealizador de movimentos de extrema direita na Espanha. Em 2013, Arsuaga veio ao pas para juntar militantes e ensin-los como montar e financiar organizaes como a dele.
Na selfie com arminhas de Henrique Lima, do Ministrio Pblico de Contas do Rio, Bernardo Kster ( esquerda, de camiseta verde), Silvio Grimaldo ( direita, de azul e usando barba) e Cesar Kyn Dvila (ao lado dele, de camiseta regata) comemoram os 10 anos do Foro de Paraty. Ao fundo, Deise Fabiana Ely, de verde. Foto: Reproduo/Instagram
Foro de Paraty Foi por volta de 2008 que Silvio Grimaldo aluno, assistente e mais tarde administrador do curso de filosofia de Olavo comeou a buscar uma editora disposta a publicar os livros do guru. Quem conta a histria Francisco Escorsim em uma coluna no jornal Gazeta do Povo. poca, Olavo havia rompido relaes com o editor Edson Manoel de Oliveira Filho, da Realizaes. Segundo Escorsim, foi de uma conversa entre Grimaldo e Dvila, na casa de Olavo, que surgiu a ideia para os primeiros selos editoriais do Cedet, Vide e Ecclesiae, em 2009. Grimaldo e Dvila se denominaram Foro de Paraty, um contraponto bvio ao Foro de So Paulo, um dos alvos preferidos da extrema direita. Grimaldo j postou fotos no Instagram com Dvila e Kster usando a expresso como legenda. Olavo nasceu em Campinas e vivia at h pouco tempo na Virgnia, nos Estados Unidos ele retornou ao Brasil para um tratamento mdico e est internado desde 9 de agosto no Instituto do Corao, o Incor, em So Paulo. Nas palavras de Helosa de Carvalho, filha de Olavo, Grimaldo o brao direito, o esquerdo e as duas pernas do guru no Brasil.
Os nomes do Cedet Csar Kyn Dvila (ex-aluno de Olavo de Carvalho)
Adelice Leite de Godoy Dvila (integrante de movimento catlico conservador)
Vinicius Belandrino Bardella (ex-aluno de Olavo)
Deise Fabiana Ely (professora universitria, casada com Silvio Grimaldo, do Brasil Sem Medo, ex-aluno e administrador do curso de Olavo).
Autores como Ana Campagnolo (Vide), Alexandre Costa (Vide), Bene Barbosa e Flvio Quintela (Vide), Fausto Zamboni (Krion), Rodrigo Gurgel (Vide), Italo Marsili (Auster), Paulo Ricardo (Ecclesiae), o atual secretrio de alfabetizao Carlos Nadalim (Krion) e o ex-ministro Ricardo Vlez Rodriguez (Vide)
O Foro de Paraty: Csar Kyn Dvila, Silvio Grimaldo, Bernardo Kster, Arno Alcntara Junior, Carlos Nadalim e Henrique Lima
Aliados como Paulo Briguet (Brasil Sem Medo) e Filipe Barros (deputado federal pelo PSL do Paran), alm de editores e influenciadores digitais de extrema direita como o Tera Livre
No Facebook, uma das fotos do lbum pblico de Deise Fabiana Ely, casada com Grimaldo e atualmente scia do Cedet, tem Grimaldo e Dvila posando com cachimbos ao lado de Arno Alcntara Junior (produtor digital de Londrina e scio do Brasil Sem Medo), Carlos Nadalim (atual secretrio de Alfabetizao do Ministrio da Educao) e Henrique Lima (procurador do Ministrio Pblico de Contas do Rio de Janeiro e colunista do Tera Livre). A legenda: Homens do Foro [de Paraty] e Campinas.
Para Helosa de Carvalho, o Foro de Paraty a cpula do crculo da extrema direita brasileira. Estar ali no pra qualquer olavete, ela disse. Paraty, cidade histrica no sul do Rio de Janeiro, desde 2003 abriga a Festa Literria Internacional de Paraty, a Flip. Trata-se de um dos smbolos do mainstream editorial. Segundo uma fonte prxima ao Cedet, o apelido Foro de Paraty uma ironia que comeou quando Grimaldo e Dvila viajaram com o influenciador da extrema direita catlica (e padre) Paulo Ricardo para gravar vdeo-aulas na cidade. O combo de livro, DVD e CD Vaticano II: ruptura ou continuidade foi lanado pela Ecclesiae, do Cedet, em 2009.
O condomnio empresarial onde o Cedet tem sede, em Campinas: 1.740 metros quadrados de rea til e segurana reforada.Fotos: Reproduo/GR Properties
Saltos maiores O Centro de Desenvolvimento Profissional e Tecnolgico, origem da sigla Cedet, foi aberto em julho de 1982. A empresa nasceu com o objetivo de prestar servios de consultoria e assessoria tcnico-cientfica, de desenvolvimento de recursos humanos, bem como em qualquer outra forma aplicvel ao seu ramo de atividade, nas reas de administrao, planejamento e tecnologia industrial, conforme contrato disponvel na Junta Comercial do Estado de So Paulo, a Jucesp, que o Intercept requereu e analisou. O Cedet foi fundado pelo engenheiro Saul Gonalves Dvila, professor da Universidade Estadual de Campinas, a Unicamp, e outros quatro scios. Em 1986, eles deixaram o negcio, e ele ento incluiu como scia a esposa, a biloga Tiyoka Mori Dvila. Em 2006, a empresa foi transferida para o filho do casal, Csar Kyn Dvila, e a esposa dele, Adelice Leite de Godoy. Foi s em maio de 2009 que o Cedet incluiu entre suas atividades a edio integrada impresso de livros. O primeiro endereo da editora era uma casa de tijolos vista na Rua ngelo Vicentin, em Baro Geraldo, regio muito valorizada de Campinas por ficar prxima Unicamp. Ao Intercept, o Cedet informou que instabilidades nos mercados em que atuava entre os anos de 2002 e 2006 [consultoria, treinamentos e assessoria tcnica nas reas de administrao e tecnologia industrial] suscitaram a vontade dos scios em atuar de forma mais prxima do consumidor final, diminuindo a dependncia de contratos com grandes empresas.
Da, segundo a empresa, veio a deciso de publicar e vender livros, apoiada na experincia com a edio de mais 200 apostilas, a emergncia do mercado de e-books e o alto grau de conhecimento dos consultores em automatizao e otimizao de processos para reduo de custos e aumento de eficincia. O encontro entre Dvila e Grimaldo, narrado na Gazeta do Povo, no foi mencionado pela empresa. Baro Geraldo uma espcie de bolha universitria. Quem mora ali so majoritariamente professores e estudantes. Entretanto, diversas fontes consultadas pelo Intercept disseram desconhecer a credibilidade da editora nos crculos acadmicos. Foi apenas em 2018 que o Cedet saiu de Baro Geraldo rumo a um pequeno prdio na rua Armando Strazzacappa, na Fazenda Santa Cndida. O negcio cresceu e, no ano seguinte, a sede se consolidou em um imponente condomnio empresarial e logstico na avenida Comendador Aladino Selmi, na Vila San Martin, o que coincidiu com a entrada de dois novos scios: o engenheiro paulista Vinicius Belandrino Bardella e a gegrafa gacha Deise Fabiana Ely, professora da Universidade Estadual de Londrina, a UEL, no Paran.
Foto: Nayara Felizardo para o Intercept Brasil
Na Vila San Martin, o Cedet ocupa um dos 21 mdulos do complexo, que funciona nos moldes de um condomnio fechado e possui segurana reforada. Cada mdulo possui 1.740 metros quadrados, dos quais 225 so destinados, em mezaninos, para a instalao dos escritrios. O Cedet ocupa o de nmero 8, o que a reportagem s descobriu ao perguntar ao porteiro o espao correspondente na placa que anuncia os nomes dos ocupantes de cada um dos mdulos est vazio, o que indica um apreo pelo anonimato. Em 2020, o Cedet abriu uma filial em Joo Pessoa, na Paraba, para reduzir o prazo de entrega de encomendas no Nordeste. Segundo a empresa, trata-se de uma unidade piloto para saltos maiores no futuro. Nos prximos anos, o escopo de parcerias deve ser ampliado inclusive para contemplar pontos de venda fsicos e editores de pequeno para mdio porte, afirmou. Pedi ao Cedet informaes sobre tiragens e vendas dos livros que publica. A empresa se gaba de ter visto a oportunidade de implementar inovaes que so mudanas de paradigma para todo o mercado editorial, mas no quis apresent-las. Dados de faturamento, outros ndices e quantitativos, por motivos bvios, no so divulgados, afirmou. Mas o Cedet fez questo de dizer que possui um modelo de negcios nico e inovador para pequenos editores e pontos de venda online, que permite a permanncia no mercado de livros com baixo nvel de vendas, ou seja, as eficincias obtidas permitem a explorao lucrativa da cauda longa do mercado de livros.
Nando Moura, ex-parceiro da Cedet numa livraria virtual: Um negcio absurdo, avassalador. Foto: YouTube/Reproduo
A fome com a vontade de comer Ex-aluno de Olavo, o msico e youtuber paulistano Nando Moura foi um dos influenciadores que ajudou a catapultar o modelo de negcios do Cedet. Por volta de 2017, Moura fez uma entrevista com o instrutor de tiro Bene Barbosa, coautor de Mentiram para mim sobre o desarmamento (com o jornalista Flvio Quintela), publicado pela Vide Editorial, do Cedet, em 2015. Barbosa j tinha uma livraria digital operada pela empresa. Aps a entrevista, Dvila procurou Moura e o convidou para tambm abrir uma loja virtual. A livraria, na verdade, um modelo de negcio pensado pelo Csar, onde ele pega determinado influenciador, e o influenciador faz a curadoria dos livros, ou seja, o que ele acha que legal vender []. Ele faz esse modelo de negcios e a se cria essa plataforma, relatou Moura, em vdeo publicado no YouTube em 16 de maro de 2021. Foi juntar a fome com a vontade de comer. Nas palavras de Moura, a livraria foi um sucesso, um negcio absurdo, avassalador. Nesse modelo, a Cedet se encarrega da infraestrutura e do atendimento ao cliente,enquanto o influenciador serve como vitrine dos produtos eles precisam ter pelo menos 100 mil seguidores e bom engajamento nas postagens em redes sociais, segundo o site da empresa.
O modelo de negcios do Cedet Cedet monta e administra livrarias virtuais, cadastra e estoca produtos num depsito, atende pedidos online, faz cobranas dos pedidos e fretes, despacha encomendas e emite notas fiscais.
Influenciador paga domnio de internet, faz curadoria dos livros e divulga loja virtual.
Cedet ganha com a venda de produtos e livros impulsionada pelas personalidades de extrema direita.
Influenciador ganha comisso e amplifica sua influncia na extrema direita.
No fim das contas, o Cedet ganha com a venda de livros (inclusive editados por ela mesma), impulsionada pela visibilidade dos influenciadores. Esses, por sua vez, ganham comisses e amplificam as ideias ultraconservadoras que defendem. Esse modelo de negcios deu to certo que depois diversos influenciadores do nicho conservador acabaram tendo sua livraria []. Foi criada uma rede de livrarias atrelada a esse modelo de negcios que eu e Csar fizemos funcionar na internet. [] Depois, esses caras comearam a me apunhalar pelas costas, Moura reclamou, no YouTube. Entre esses caras esto Allan dos Santos, Bernardo Pires Kster e Sara Winter, por ele definida como praticamente uma analfabeta. Esses caras tambm tm problemas com as autoridades. Sara, cujo sobrenome real Geromini, foi detida e ficou presa por dez dias em junho de 2020 sob suspeita de organizar e captar recursos para atos antidemocrticos. Santos e Kster so investigados no inqurito das fake news do Supremo Tribunal Federal, o STF, e tiveram seus sigilos financeiros quebrados pela CPI da Covid no Senado. Perguntei ao Cedet se a empresa v motivos de preocupao nisso. Todas as livrarias virtuais sob nossa gesto e editoras parceiras so empresas, foi a resposta. Todo pagamento efetuado do Cedet para seus parceiros feito contra a apresentao de nota fiscal do servio prestado. No existe nenhum motivo para preocupao. Moura acabou por romper com esses caras e parte da extrema direita brasileira quando passou a criticar o governo de Jair Bolsonaro. Tirei todos os livros do Olavo de Carvalho da minha livraria. No consigo mais reconhecer o autor dos livros que eu li. E li praticamente todos, 95% [deles], disse o msico noutro vdeo, postado no YouTube em 27 de outubro de 2019. O racha levou o youtuber a se afastar tambm do Cedet e fechar sua livraria virtual segundo ele, por iniciativa prpria. No vou ficar em qualquer lugar onde fique o senhor Bernardo Kster. Liguei para o Csar e disse: onde estiver esse cara, esse canalha, eu no participo, justificou. Procurado por e-mail pelo Intercept, Moura no retornou os pedidos de entrevista. O bero do olavismo Olavo reconhecido como guru por gente importante do bolsonarismo. Desde a posse de Bolsonaro, olavetes (como o prprio autor j se referiu a seus seguidores) ocuparam ou ocupam cargos importantes da Repblica. Olavete tambm o nome de uma das livrarias do Cedet, que conta com clube de leitura e site. Se Olavo pariu a ninhada de influenciadores de extrema direita ao redor do bolsonarismo no governo, o Cedet foi um dos beros. Olavo um fenmeno duradouro e que por dcadas foi encarado com certa displicncia pela academia. Ele sedimentou um movimento antiacadmico que mistura citaes de filsofos clssicos com polmicas vazias de sentido. Se existe algum que realmente pratica doutrinao poltica como se fosse um processo educativo Olavo, criticou o historiador Fernando Nicolazzi, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a UFRGS.
um ecossistema puxado pelo Olavo, que alega que o mercado editorial, a mdia e as universidades so partes do marxismo cultural e vende a promessa de trazer luz um conhecimento proibido.
Para o historiador Gilberto Calil, professor da Universidade Estadual do Oeste do Paran, a Unioeste, a ascenso da extrema direita no Brasil se desenrolou desde os anos 2000 e teve Olavo como figura-chave. Trata-se de um fenmeno editorial, que envolveu um elemento empresarial e um foco ideolgico, a tal guerra cultural. Um projeto poltico fascistizante, que mobiliza ressentimentos como todo fascismo faz: a construo do discurso de um inimigo, as teorias da conspirao so combustvel para sua propagao, resumiu Calil. Para dar vazo s teorias da conspirao, o olavismo acabou por inventar suas prprias rodas culturais, cujo expoente mximo o curso de filosofia criado pelo guru, e que precisaram de editoras dispostas a publicar e livrarias para vender contedo alinhado. Foi a que entrou o Cedet. Para o antroplogo David Nemer, professor da Universidade da Virgnia, nos Estados Unidos, abriu-se um mercado a partir do curso de filosofia de Olavo para propagar literatura conservadora do sculo 20, at ento pouco difundida no pas. Editoras so uma pea no quebra-cabeas do Olavo. De um lado, o fenmeno editorial conservador (com a traduo de autores como Xavier Zubiri e Eric Voegelin, ambos no catlogo do Cedet) busca dar ares de fundamentao terica para as mdias digitais bolsonaristas. De outro, o ncleo de influenciadores digitais de extrema direita ajuda a popularizar paulatinamente essas ideias, o que visvel, por exemplo, na difuso de memes com citaes de livros indicados por eles. Trata-se de um ecossistema puxado pelo Olavo, que alega que o mercado editorial, a mdia e as universidades so partes do marxismo cultural e, a partir da, vende a promessa de trazer luz um conhecimento proibido no mundo intelectual brasileiro que, segundo ele, seria de esquerda. A ideia liderar uma revoluo cultural conservadora no Brasil, disse Nemer, que pesquisa grupos bolsonaristas no WhatsApp.
Facas e canivetes venda na livraria do armamentista Bene Barbosa, administrada pelo Cedet. Foto: Reproduo
Os tentculos da guerra cultural O link onde estamos das 72 livrarias virtuais administradas pelo Cedet traz o mesmo nmero de CNPJ e o endereo da empresa de Campinas. Em tese, o fato de um CNPJ concentrar diversas editoras e livrarias no incomum. H no mercado editorial uma tendncia concentrao. No Brasil no diferente: diversos selos editoriais outrora autnomos (com CNPJ prprio) passam a ser parte de um conglomerado central, avaliou o editor Paulo Verano, professor da Universidade de So Paulo, a USP.
Os tentculos do Cedet 7 editoras: Vide Editorial (2009), Ecclesiae (2009), Edies Livre (2016), Krion (2017), Auster (2019), Stimo Selo (2021) e Pelicano (2021).
Mais de 20 editoras parceiras, entre elas: Armada (de Mrcio Scansani), Danbio (de Diogo Fontana, ex-aluno de Olavo de Carvalho), Estudos Nacionais (de Cristian Derosa, ex-aluno de Olavo e colunista do Brasil Sem Medo).
Mais de 70 livrarias virtuais, entre elas: Brasil Sem Medo, Folha Poltica, Tera Livre, Ana Campagnolo, Bernardo Kster, Bene Barbosa, Flavio Morgenstern (Senso Incomum), Italo Marsili, Leda Nagle, Lus Ernesto Lacombe, Rodrigo Constantino, Rodrigo Gurgel, Sara Winter e Seminrio Online de Filosofia.