O presidente americano John F. Kennedy ligou o sistema de gravao instalado no Salo Oval da Casa Branca na manh daquela segunda-feira, 30 de julho de 1962. A fita registrou a conversa entre o presidente e Lincoln Gordon, embaixador dos EUA no Brasil. Ao longo de 28 minutos, eles trataram do presidente Joo Goulart, de um possvel golpe militar e de quantos milhes de dlares os EUA estavam dispostos a torrar para interferir na poltica brasileira. Na conversa, um nome chama a ateno. Trata-se de Aluzio Alves, poca governador do Rio Grande do Norte. O centenrio de nascimento dele ser lembrado na quarta, 11 de agosto. Alves citado por Gordon como uma figura que merece apoio naquele Brasil tumultuado e polarizado. Aquela conversa ratificaria o estado governado pelo poltico potiguar como destinatrio de uma bolada de milhes de dlares que os EUA passariam a negar a Goulart. Lincoln Gordon: Um dos projetos, [no] Nordeste, por exemplo, acho que deveramos fazer avanar. Existem alguns governadores: governador do Rio Grande do Norte. . . Eu no acho que ele encontrou voc, Aluzio Alves, mas ele viu todo mundo na cidade. Ele esteve aqui h cerca de trs semanas. um grande companheiro. John F. Kennedy: Este o Vicento no o Rio, ? Gordon: Rio Grande do Norte. Kennedy: Este o Rio? Gordon: um pequeno estado no Nordeste. Kennedy: Oh, entendo. No, eu no o vi. Gordon: um pequeno estado no Nordeste. um cara de 40 anos, enrgico como pode ser, no um demagogo, honesto. Ele Kennedy: Quo fortes so os comunistas l? Gordon: Como tal, o partido fraco. Segundos depois, Gordon voltou a insistir com o chefe sobre quo importante Alves poderia se tornar para os Estados Unidos: Kennedy: Existe um grande desnimo no Brasil [entre] todos os moderados? Gordon: Ah, eles no esto desanimados a ponto de desistir. Eles esto muito infelizes. A forma como esta crise poltica foi tratada foi extremamente ruim. No, um sujeito como Aluzio Alves quer organizar um centro forte, ligeiramente esquerda. E, eu acho, devemos apoiar isso absolutamente, ao mximo.O apoio chegou, e em tal quantidade que ajudaria a cimentar um novo cl poltico no estado. Alves recebeu dos americanos, em pouco mais de trs anos, um montante superior receita do estado para um ano todo. Durante a Segunda Guerra Mundial, dez mil americanos viveram no Rio Grande do Norte e deixaram ali uma marca cultural histrica. Dcadas depois, o dinheiro de Washington ajudou a moldar o futuro poltico do estado. Os americanos relatam que o Rio Grande do Norte recebeu, em 30 repasses, 3,46 bilhes de cruzeiros entre outubro de 1962 e janeiro de 1966. A soma est em um documento enviado pela diplomacia americana ditadura brasileira em novembro de 1969. Tratou-se de dinheiro a fundo perdido, entregue ao governo do estado como doao direta. Para efeitos de comparao, em mensagem Assembleia Legislativa em 1963, o governo potiguar informou que a receita geral do estado no ano anterior havia sido de 2,5 bilhes de cruzeiros. Eu corrigi a soma pela inflao, usando uma ferramenta disponvel no site do Banco Central. Em valores atuais, a bolada doada pelos EUA equivale a R$ 179,1 milhes.Graas ao dinheiro dos EUA, as estruturas estaduais de sade, educao, abastecimento de gua, habitao, malha viria e assistncia social cresceram a olhos vistos. A ideia era apresentar o estado como um modelo do que o capitalismo poderia fazer pelo Brasil. Assim foi, e a Casa Branca acompanhou cada passo dado por Alves, como registram mais de 70 documentos da Biblioteca JFK, da Universidade Brown e do Arquivo Pblico do Estado do RN, analisados por mim. O dinheiro americano permitiu a construo de uma estrada de 51 quilmetros de extenso que liga a cidade de So Jos de Mipibu fronteira com a Paraba sozinha, a obra consumiu 1 milho de dlares. Uma outra fonte de recursos, um programa assistencialista dos EUA chamado Food for Peace, ou Comida pela Paz, fez jorrar doaes estimadas em 950 mil dlares entre 1963 e 1965 nos cofres do governo Alves. O resultado no intencional e mais duradouro da dinheirama foi sedimentar Aluzio Alves e seus descendentes na poltica. O cl produziu trs ministros, um presidente da Cmara dos Deputados e outro do Senado Federal. Seu representante mais conhecido, atualmente, o advogado Henrique Eduardo Alves, deputado federal por 11 mandatos, ex-presidente da Cmara e ex-ministro do Turismo que terminou preso nos desdobramentos da operao Lava Jato Henrique foi liberado da priso em julho de 2018. No auge, os Alves estenderam seu poder para alm da poltica. Foram donos de empresas de comunicao inclusive das emissoras afiliadas Rede Globo no estado, como a TV Cabugi e a Rdio Cabugi, alm do jornal impresso Tribuna do Norte.Ilustrao: Gustavo Magalhes para o The Intercept BrasilAliana para o Progresso B oa parte da montanha de dlares que inundou o Rio Grande do Norte tem uma mesma origem: o programa Aliana para o Progresso. Ele foi moldado pelo governo Kennedy como instrumento de apoio ao desenvolvimento e combate influncia comunista na Amrica Latina. No Brasil, no demorou a virar ferramenta poltica. O professor Felipe Pereira Loureiro, da Universidade de So Paulo, a USP, detalha esse vis poltico no livro A Aliana para o Progresso e o governo Joo Goulart (1961-1964). A obra apresenta um ndice montado pela embaixada dos EUA para classificar os governadores brasileiros e selecionar os que seriam beneficiados. O extinto estado da Guanabara, que corresponde ao que hoje o municpio do Rio de Janeiro, governado por Carlos Lacerda, principal opositor de Joo Goulart e do seu mentor, Getlio Vargas, ficou com a maior fatia do bolo. Mas o Rio Grande do Norte foi escolhido com carinho para ser o contraponto ao Pernambuco do extremista Miguel Arraes. O Rio Grande do Norte foi claramente privilegiado. Os documentos americanos mostram que Aluzio era o poltico modelo, que deveria receber apoio por ser um democrata reformista e anticomunista, me disse Loureiro.Alves estava entre os governadores mais ambiciosos no desenvolvimento de planos e em cortejar os formuladores de polticas dos EUA.Os Estados Unidos estavam apavorados com o Nordeste. O semirido nordestino era uma das reas mais pobres da Amrica Latina, e a pobreza era vista pelos norte-americanos como campo frtil para a proliferao de ideias ditas contra a ordem, pois um povo na misria absoluta no teria nada a perder. Nesse contexto, o Rio Grande do Norte foi escolhido para ser a principal Ilha de Sanidade da regio, recebendo a maior quantidade de recursos per capita da Aliana, avaliou o professor Henrique Alonso, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, a UFRN, pesquisador e autor de artigos e livros sobre as relaes entre EUA e Brasil. Ilha de Sanidade um conceito criado pelo embaixador Lincoln Gordon, um dos formuladores da Aliana. Economista e professor da Universidade de Harvard, ele atuou no Plano Marshall, gestado por Washington para financiar a reconstruo da Europa aps a Segunda Guerra Mundial. Gordon acreditava que as tais ilhas deveriam ser vitrines do poder americano e contrapontos ao mundo socialista. O primeiro beneficirio da poltica das Ilhas [de Sanidade] foi Aluzio Alves, o governador pr-EUA do Rio Grande do Norte. Ele estava entre os governadores de estado mais ambiciosos no desenvolvimento de planos de desenvolvimento econmico e social e em cortejar os formuladores de polticas dos EUA envolvidos na tomada de decises de financiamento da Aliana para o Progresso, corroborou Jeffrey F. Taffet, autor do livro Foreign aid as foreign policy The Alliance for Progress in Latin America (Ajuda externa como poltica externa: a Aliana para o Progresso na Amrica Latina, em traduo livre). O medo de que a situao nordestina descambasse numa revoluo como a cubana era forte na Casa Branca. Em julho de 1961, um ano antes da conversa que selou o destino de Alves, Kennedy recebeu Celso Furtado, que chefiava a Superintendncia de Desenvolvimento do Nordeste, a Sudene, em Washington. O presidente dos EUA no fez rodeios ao dizer que a regio despertava grande interesse de seu governo, segundo o memorando do Departamento de Estado que registrou a reunio. Em abril do ano seguinte, Brasil e EUA assinariam um acordo milionrio de ajuda para o Nordeste. A primeira parte do plano levaria, imediatamente, 33 milhes de dlares regio. E, a mdio e longo prazo, mais 98 milhes de dlares para obras de saneamento, sade, energia, educao, abastecimento de gua e fomento da agricultura. Porta-voz dos governadores T anto dinheiro assim no seria entregue sem que o uso fosse vigiado de perto por Washington. Mais um trunfo para Alves: na viso de Gordon, ele inspirava confiana. Em informaes enviadas para municiar Kennedy em uma visita que ele faria ao Brasil, o embaixador aponta o governador potiguar como um tipo que devemos encorajar. Alves se esforou para merecer o apoio. Em julho de 1963, entregou a Joo Goulart um manifesto assinado por quase todos os governadores nordestinos e intitulado Resposta ao desafio do Nordeste. Nele, cobrava-se uma definio do governo federal a respeito da Aliana para o Progresso. Para Alves, Braslia colocava entraves e impedia que o dinheiro de Washington chegasse ao seu destino. Um resumo do texto foi encaminhado da embaixada dos EUA em Recife para Washington, indo parar em um relatrio especial da Agncia Central de Inteligncia, a CIA. Nos bastidores do governo Goulart, dizia-se que o manifesto era obra dos americanos. Na Casa Branca, ele soou como msica. O articulado governador do Rio Grande do Norte Aluzio Alves parece, ultimamente, estar despontando como porta-voz para os governadores nordestinos em questes regionais, resume o telegrama diplomtico.Autor do livro The Politics of Foreign Aid in the Brazilian Northeast (As polticas de ajuda externa no Nordeste brasileiro, em traduo livre), publicado em 1973, Riordan Roett, professor e diretor emrito da Universidade Johns Hopkins, entrevistou Alves e outros governadores ainda durante o funcionamento da Aliana. Eu perguntei se ele acreditava que existia uma ameaa vermelha. Ele nunca respondeu a questo diretamente, mas falou sobre Fidel Castro, Miguel Arraes, o governo Goulart, etc. Charmoso de um jeito nordestino, desconfiado, ele quis enviar sua mensagem de que era uma Ilha de Sanidade confivel, lembrou o professor, em conversa comigo.Photo: CORBIS/Corbis via Getty ImagesSiga o dinheiro A luzio Alves foi eleito governador em 1960, aps quatro mandatos consecutivos na Cmara dos Deputados, onde foi vice-lder da oposio e secretrio-geral da UDN, a Unio Democrtica Nacional, partido de direita da poca. Montou uma coalizo que tinha de integralistas e setores conservadores da Igreja Catlica a comunistas e sindicalistas, a Cruzada da Esperana. Com ela, derrotou Djalma Marinho, av do hoje ministro do Desenvolvimento Regional, Rogrio Marinho, com uma diferena de mais de 10% dos votos. Mas o sucesso eleitoral no assegurou um incio de governo tranquilo. Entronado no Palcio Potengi, que em seu mandato passou a ser chamado de Palcio da Esperana, Alves encontrou os cofres praticamente vazios, pagamentos em atraso e uma Assembleia Legislativa oposicionista e hostil. O governador montou uma equipe de jovens formados pela Comisso Econmica para a Amrica Latina e o Caribe, a Cepal. Reunidos no Conselho Estadual de Desenvolvimento, esses assessores planejaram a modernizao do estado com projetos de eletrificao, redes de telefonia, poos e audes no semirido, moradia popular e infraestrutura.Foto: Reproduo/ArquivoFaltava o principal: dinheiro. Sem conseguir os dlares em casa, Alves resolveu ir bater porta dos americanos e desembarcou em Washington no fim de junho de 1962. Sentou-se para conversas com diplomatas e assessores da Aliana, dos quais ouviu que no havia acordo possvel sem a Sudene envolvida. Tentando uma cartada final, visitou o embaixador brasileiro, o economista liberal Roberto Campos. Foi a deciso certa. Apesar de Kennedy afirmar ao embaixador Lincoln Gordon que no encontrou Alves, o governador potiguar escreveu em suas memrias que Campos conseguiu que o presidente americano sasse de uma agenda poltica interna no interior dos EUA apenas para atend-los. Acompanhado da esposa, Jacqueline Kennedy, o presidente recebeu os brasileiros na sede do Departamento de Estado. De acordo com as lembranas de Alves, o encontro teve o seguinte dilogo: Kennedy: Como vai a Aliana para o Progresso? Alves: Presidente, falando francamente, s existe nos jornais. Nem uma providncia foi dada, alm da assinatura de um convnio, guardado na gaveta da Sudene. A partir da, Alves daria sua verso obviamente interessada da situao, que incluiu as Ligas Camponesas e a j conturbada situao poltica do Brasil. Jnio Quadros j havia chegado metade do que seria seu mandato, abreviado pela renncia que levaria Joo Goulart presidncia. JFK ento disse que na manh seguinte o chefe da Aliana estaria em Washington pronto para ouvi-lo, pois havia ordenado o retorno dele das frias. Ao final, Alves voou para casa com a promessa de 20 milhes de dlares em investimentos. A quantia, segundo reportagem do Dirio de Natal, era alucinante. Em 12 de agosto, Teodoro Moscoso, coordenador-geral da Aliana, e mais sete assessores desembarcaram em Natal para tratar da parceria. Com o dinheiro americano, o governo Alves fez obras como o Sistema Jiqui, responsvel pelo abastecimento de gua de parte da zona sul de Natal at hoje, o Instituto de Educao Superior Presidente Kennedy, o IFESP, para formao de professores, inaugurado com a presena do senador Robert Kennedy, e a Cidade da Esperana, o primeiro programa habitacional do estado destinado ao pblico de baixa renda que construiu 400 casas, financiadas pela Aliana, e deu origem a um bairro na zona oeste da capital. Se Carlos Lacerda homenageou os financiadores americanos ao batizar os conjuntos habitacionais construdos na Guanabara com os nomes de Vila Aliana e Vila Kennedy, Aluzio resolveu colocar a sua marca. A Cidade da Esperana foi entregue j no fechamento do governo. O nome foi ideia dele, ligando a Cruzada da Esperana, o Governo da Esperana, relembrou o deputado estadual Jos Dias, hoje no PSDB, que presidia a fundao habitacional.O pedagogo Paulo Freire: odiado pela extrema direita at hoje, o projeto de alfabetizao dele foi financiado por Washington nos anos 1960. Foto: Bel Pedrosa/Folha PressPaulo Freire alfabetiza e com dinheiro dos EUA O maior e mais caro dos projetos financiados pela Aliana para o Progresso no Rio Grande do Norte foi para a educao. No toa. O censo de 1960 do IBGE apontava que 61,64% dos potiguares acima dos 5 anos de idade no sabiam ler e escrever, um contingente de 586.688 pessoas. Em junho de 1961, uma misso americana apontou o estado como a melhor vitrine para seu primeiro projeto educacional no Nordeste. Assim, Washington concordou em entregar 2,5 bilhes de cruzeiros ao Rio Grande do Norte. Em sua mensagem especial ao Congresso em 2 de abril de 1963, JFK citou a parceria: No problemtico Nordeste do Brasil, em acordo com o estado do Rio Grande do Norte, est em andamento um programa para treinar trs mil professores, construir mil salas de aula, dez escolas vocacionais, oito escolas normais e quatro centros de treinamento de professores. O acerto feito diretamente entre os potiguares e os americanos incomodou o governo brasileiro, mas terminou aprovado e assinado em dezembro de 1962. Se o analfabetismo era o grande problema, era necessrio enfrent-lo com coragem. Ainda antes da verba americana, Aluzio Alves e seus assessores ouviram falar de um professor da Universidade Federal de Pernambuco, que inventara um mtodo rpido e barato para ensinar a ler e escrever. Era Paulo Freire. O governo acertou com Freire um convnio para um projeto-piloto, que se bem-sucedido, seria ampliado para todo o estado para alfabetizar pelo menos 100 mil pessoas em trs anos. Faltava dinheiro at a Aliana para o Progresso aparecer. A contradio em receber financiamento americano no passou ao largo das discusses do grupo que executaria o programa. O clima era duro. Mas, no fim das contas, no tivemos medo da contradio, pois tnhamos convices arraigadas, relembrou o advogado Marcos Guerra, ento um jovem estudante que coordenaria a ao. O educador pernambucano foi quem bateu o martelo. Eu no tenho medo da Aliana, ela que tenha medo de mim, disse Freire, em uma das reunies preparatrias. Paulo Freire encontrou aqui, como no encontrou mais em nenhum outro local, o apoio para colocar em prtica, em larga escala, sua tese, resumiu o jornalista Cassiano Arruda Cmara, que era reprter poca. A escolha pelo municpio de Angicos no foi gratuita: era a terra natal dos Alves. Aluzio queria mostrar que, se a emancipadora experincia de alfabetizao numa poca em que analfabetos no votavam fosse feita na sua cidade, poderia ser levada a qualquer lugar. Ainda no fim de 1962, o grupo chega ao municpio para no s alfabetizar, mas conscientizar 300 pessoas sobre seus direitos. Era a experincia que ficou conhecida como As 40 Horas de Angicos. As aulas de janelas e portas abertas, lembra Guerra, eram sempre assistidas por pessoas no identificadas. Em dia de visita dos consultores da Aliana, tudo parava: dava-se folga aos professores, e as aulas eram suspensas. Mas a experincia foi bem-sucedida e comeou a se espalhar pelo estado. Em uma mensagem enviada aos deputados estaduais, o governo de Alves defendeu o Mtodo Paulo Freire por habilitar ao exerccio da cidadania, como eleitor, como membro de uma nao livre e como participante ativo do regime democrtico. A aula de encerramento, em 2 de abril de 1963, atraiu o presidente Joo Goulart, que assistiria ao recm-alfabetizado Antnio Ferreira ler um discurso escrito de prprio punho: Em outra hora, ns era massa, hoje j no somos massa, estamos sendo povo. Ali, Jango anunciou que o Ministrio da Educao levaria o mtodo para todo o Brasil. Aps uma visita ao Rio Grande do Norte em maio de 1963, Lincoln Gordon recomendou que outros governadores copiassem o modelo. Trs meses depois, o secretrio de Educao Calazans Fernandes seria recebido na Casa Branca pelo presidente JFK. Um episdio, porm, dava o tom da mudana que viria. Ao fim da solenidade, o general Castelo Branco, que comandava o 4 Exrcito, atual Comando Militar do Nordeste, no Recife, abordou Calazans Fernandes. Meu jovem, voc est engordando cascavis nesses sertes, disse o futuro ditador. Depende do calcanhar onde elas mordam, general, retrucou o secretrio. Exatamente um ano depois, o golpe militar desmantelaria a experincia. Paulo Freire e Marcos Guerra, entre outros envolvidos, seriam presos por subverso.Foto: ReproduoNasce um cl Aluzio Alves no foi primeiro poltico da famlia o patriarca Manoel Alves foi prefeito de Angicos no incio da dcada de 1930. Mas foi Aluzio quem sedimentou o cl na poltica potiguar. Aluzio sabia que no tinha recursos e teve a inteligncia de perceber a realidade. Teve a compreenso do governo de Kennedy, do embaixador Gordon e se aproveitou muito bem, afirmou o deputado estadual Jos Dias. Pode gostar-se ou no, mas Aluzio fez um governo inovador em um estado que era uma merda, onde o primeiro escndalo que gerou manchetes de jornal foi a compra de um ar condicionado para o gabinete do governador. Ele pegou carona na Aliana para o Progresso e virou um dos melhores exemplos do programa que terminou sendo um fracasso, avaliou Cassiano Arruda. Entre 1960 e 2018, cada episdio poltico local teve um Alves ou um aliado como protagonistas. J em 1962, o grupo fez maioria no legislativo estadual, cinco das sete cadeiras da Cmara, e s no levou as duas do Senado por falta de 7,6 mil votos. Naquele mesmo ano, o governador, que j possua a Tribuna do Norte, comprou a Rdio Cabugi. Dez anos depois, viria a Rdio Difusora, em Mossor, e, em 1987, a TV Cabugi, retransmissora da TV Globo. Em 1965, Nova vitria. Aluzio fez governador o Monsenhor Walfredo Gurgel, senador e ex-vice-governador. Tambm elegeu prefeito de Natal o irmo, Agnelo Alves. Em 1966, quatro irmos Alves estavam na poltica: Agnelo era prefeito de Natal; Garibaldi, deputado estadual; Expedito, prefeito de Angicos; e Aluzio, o lder, governador. Mas o poder lhes seria tomado pela ditadura militar. O governador no era bem quisto entre os militares, mesmo tendo emplacado o almirante Tertius Rebelo, membro do seu governo, no lugar de Djalma Maranho, prefeito deposto de Natal, lanado uma comisso estadual de investigao da subverso no Rio Grande do Norte e escolhido a Arena, partido dos ditadores, para se abrigar. Os fardados gostavam era do senador Dinarte Mariz, ex-padrinho e ento maior rival de Aluzio.Henrique Eduardo Alves foi presidente da Cmara dos Deputados e ministro de Dilma e Temer antes de acabar preso pela Lava Jato.