Foi por acaso que a antroploga Adriana Dias encontrou provas de que neonazistas brasileiros apoiam Jair Bolsonaro h pelo menos 17 anos. Dias estava em casa se preparando para uma palestra e precisou consultar uma parte do vasto material que armazena em Campinas, onde vive e trabalha. H 20 anos pesquisando a movimentao de grupos neonazistas no Brasil, a professora da Unicamp pediu para que o marido buscasse um site que ela havia fisicamente impresso no longnquo ano de 2006. Doutora em antropologia social, Dias j imprimiu milhares de pginas de dezenas de sites neonazistas em lngua portuguesa isso antes de derrub-los para sempre. Adriana Dias uma caadora digital de nazistas. Sempre que encontra um desses sites, ela pede aos provedores para que o contedo seja tirado do ar. Antes, no entanto, imprime todas as pginas para arquivar em sua pesquisa e t-los como prova. Eu abri em uma pgina aleatria e ali estava o nome de Jair Bolsonaro.O material uma prova irrefutvel do apoio de neonazistas brasileiros a Bolsonaro quando o hoje presidente da Repblica era apenas um barulhento e improdutivo deputado. A base bolsonarista , h quase duas dcadas, composta por neonazistas. Trs sites diferentes de neonazistas trazem um banner com a foto de Bolsonaro com link que leva diretamente ao site que o poltico tinha na poca e uma carta em que o parlamentar afirmava: Ao trmino de mais um ano de trabalho, dirijo-me aos prezados internautas com o propsito de desejar-lhes felicidades por ocasio das datas festivas que se aproximam, votos ostensivos aos familiares.Imagem: Web Archive/ReproduoO melhor vinha depois: Todo retorno que tenho dos comunicados se transforma em estmulo ao meu trabalho. Vocs so a razo da existncia do meu mandato.Imagem: Web Archive/ReproduoNs no conseguimos descobrir se Bolsonaro enviou a carta, via gabinete em Braslia, apenas para as pessoas que administravam os sites neonazistas. Mas uma coisa chamou ateno da pesquisadora Adriana Dias: a mensagem no foi publicada em canto nenhum da internet alm dessas pginas.Eu pedi para que nosso reprter em Braslia, Guilherme Mazieiro, fosse atrs da histria. Ele conversou com um servidor de carreira que ocupou um cargo de comando na administrao da Cmara para saber como a casa arquiva e-mails enviados e recebidos por parlamentares e como, eventualmente, poderamos legalmente acess-los. A fonte explicou que o contedo dos e-mails tratado como informao pessoal e, portanto, no passvel de ser obtido via Lei de Acesso Informao, mas apenas em casos de deciso judicial, como busca e apreenso. A resposta foi confirmada em pedido de informao oficial que Mazieiro fez Cmara. Mas o backup existe, segundo a fonte, desde 1995. Tentamos tambm outro caminho. H um processo na Justia Federal em Minas Gerais sobre um neonazista preso por ter registrado, em foto, o momento em que ele simula o enforcamento um morador de rua. Durante a busca e apreenso em sua casa, policiais encontraram uma carta enviada a ele por Jair Bolsonaro. Tentamos acesso carta, para compar-la quela estampada nos sites neonazistas. Mazieiro enviou e-mails em 29 de abril e 7 de junho ao procurador Carlos Alexandre Ribeiro de Souza Menezes para conversar. No tivemos resposta. O processo corre no Tribunal Regional Federal da 1a Regio, em Braslia. Em sigilo.