Funcion'rio ' acusado de ass'dio e Iabas demite denunciantes

No final do ano passado, uma srie de demisses assolou o Caps Mandaqui, instituio pblica responsvel por acolher pessoas portadoras de doenas mentais no bairro da Zona Norte de So Paulo. Quatro funcionrias e um funcionrio foram mandados embora pelo Iabas, o Instituto de Ateno Bsica em Sade, terceirizada que administra a instituio, em circunstncias, na poca, mal explicadas. Pouco depois, as razes vieram tona: quatro mulheres acusaram um mesmo funcionrio de assdio sexual. A resposta da empresa foi demitir os envolvidos. Inclusive as denunciantes. Segundo relatos, os casos aconteceram no ano passado no Caps Mandaqui, um dos 69 servios de sade geridos pelo Iabas em So Paulo. No Rio, so trs; no Mato Grosso do Sul, so 1.400 unidades cobertas pelo Complexo Regulador, responsvel pelo agendamento de consultas e exames em todo o estado, alm de regulao das internaes hospitalares. No total, a empresa tem contratos com valores superiores a R$ 5 bilhes em So Paulo, no Rio de Janeiro e no Mato Grosso do Sul. Ela opera desde Unidades Bsicas de Sade at pronto-socorros e centros especializados, como os Caps.Nos Caps, pacientes com transtornos psiquitricos tm atendimento multidisciplinar pelo SUS. Psiclogos, psiquiatras e assistentes sociais fazem triagem, diagnstico, tratamento e reinsero social. Apesar de o servio ser pblico, regulado por diretrizes do Ministrio da Sade, ele prestado por instituies privadas, as Organizaes Sociais de Sade. O Iabas uma delas. Foi justamente em uma dessas instituies que os assdios foram relatados e, os envolvidos, demitidos, sem que o caso fosse informado s autoridades municipais de sade que deveriam fiscalizar o servio. Diana*, uma vtima que no denunciou o caso, me disse que era obrigada a trabalhar com o acusado: ele mudava a agenda para forar encontros com ela. Na ltima vez em que trabalharam juntos, ela contou que, dentro do carro, ele abriu o zper da cala e forou uma das mos dela para dentro. Como o acusado afirmava ser amigo da direo, Diana temeu ser mandada embora. Eu nunca dei liberdade, mas ele no parava de me escrever. Quando eu entrava para buscar medicamento, ele dava um jeito de passar a mo em mim. O meu medo foi crescendo. Ela saiu da unidade h mais de um ano, mas ainda trata as sequelas na terapia e no foi a nica vtima do mesmo funcionrio.Maria*, outra vtima, afirma ter sido ameaada dentro de uma sala fechada. Ele disse que no adiantava eu falar nada, porque tinha amigos influentes, e que eu ia perder meu emprego. Ela denunciou o caso ao Iabas, mas no teve retorno tive acesso ao e-mail enviado para a ouvidoria da empresa. Maria disse que precisou tomar medicao para combater a ansiedade que os abusos causaram. A denncia nunca foi respondida. Tudo caracteriza assdio moral, precarizao das relaes de trabalho e machismo estrutural, afirma a vereadora Carolina Iara, da bancada feminista, que est acompanhando o caso. As demisses foram um estrago, definiu um dos presentes em uma reunio virtual realizada em fevereiro deste ano com 44 profissionais da sade mental do Conselho Municipal de Sade de So Paulo para discutir o caso. No estamos aqui para falar do assdio em si, mas da forma como foram demitidas. Isso uma violncia institucional com a qual a gente no compactua. No pode haver silenciamento de quem pede ajuda, disse um participante na reunio. Em nota enviada ao Intercept, o Iabas afirmou que, apesar da atuao institucional limitada, a apurao interna realizada com provas materiais evidenciou que as relaes seriam consentidas e duradouras entre o suspeito e quatro colaboradoras. A empresa tambm afirma que o funcionrio no ostentava posio hierrquica superior das demais pessoas envolvidas. As demisses aconteceram, segundo o Iabas, por conta de conflitos passionais na unidade. Operao abafa Nenhuma das mulheres demitidas quis falar sobre o caso nem mesmo a advogada delas. A reportagem tentou, por meses, contato por telefone, mensagem e via Ordem dos Advogados do Brasil. As informaes narradas nesta reportagem foram obtidas por meio de entrevistas com trs colegas de trabalho, um servidor municipal, da vereadora Carolina Iara, do Psol, da reunio online que acompanhamos e de manifestaes de repdio. O esforo para tirar o caso da invisibilidade veio de colegas de trabalho no mesmo dia da demisso, 18 de dezembro, quando publicaram uma carta de repdio. Trs dias depois, em 21 de dezembro, a Raps, Rede de Ateno Psicossocial do Municpio de So Paulo, se pronunciou. Em nota, afirmou que a deciso foi injusta, arbitrria, machista e misgina, conduta oposta que o servio de sade mental deveria oferecer.No foi uma conversa, mas uma ameaa. Elas disseram que no podamos mais falar sobre isso.